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Peço indignação da imprensa, da classe política, do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, da OAB, do Ministério Público, mas, antes de qualquer coisa, peço a sua indignação, leitor, porque é dela que nascerá alguma providência e o sentimento de um povo de que qualquer um de nós que for aviltado da forma como relatarei representará a todos, pois todos devemos nos sentir atingidos como se, não uma família pobre, mas cada um de nós tivesse sido vitimado.
Na grande imprensa, só notas lacônicas relatando um crime de lesa-humanidade que não ganhou manchetes principais, não fez a ultra-esquerda e a direita aliadas pedirem CPIs, não gerou manifestação na avenida Paulista, não mereceu pronunciamento de prefeitos, governadores ou da presidente, mas que simboliza a vergonha maior para um povo.
Policiais invadiram as casas e não deram a mulheres, crianças e velhos nem tempo de recolher suas roupas, ao menos. As pessoas não podiam cumprir a ordem judicial de reintegração de posse do terreno da favela, que pertence a uma empresa, porque não tinham para onde ir. Por isso estavam lá, vivendo naquelas condições. Mas o capitalismo hidrófobo que se pratica por aqui não tem tempo para essas coisas.
Um capitão da Polícia Militar que você verá no vídeo ao fim deste texto diz que ele e sua horda de bárbaros estavam tendo “uma paciência enorme” com aquela gente. E pregou que “as pessoas entendam a lei e cumpram a lei”. Que lei é essa que põe até bebês de colo no meio da rua em pleno inverno sem se preocupar com nada? Isso é lei? Para mim, é barbárie.
Sinto vergonha de ser brasileiro.
Peças de vestuário, eletrodomésticos, móveis, tudo ficou sob as esteiras ou rodas de tratores que derrubaram os barracos em que aquelas famílias mal e porcamente sobreviviam. Sem nada, sem serviços públicos, muitas vezes mal tendo o que comer.
Sabem quando veríamos isso acontecer em Cuba, no inferno na Terra que esse capitalismo hidrófobo pinta na sua mídia subornada? Nunca. Por lá eles não tem carros de 300 mil dólares rodando nas ruas, mulheres não usam vestidos de 30 mil reais para irem a uma reunião besta, não se pode gastar mil reais num almoço, mas os seres humanos se reconhecem como tais e, assim, respeitam-se.
Um país que assiste ao que se relata que ocorreu em Ribeirão Preto – e que vive ocorrendo –, não se indigna e permite que essas tragédias prossigam, ano após ano, não pode ser chamado de país. Somos um ajuntamento de comunidades para as quais o mundo se resume ao círculo social de cada um e mais nada.
Comecei mal este dia, com aquelas cenas. Sinto desesperança. Pergunto-me se este país tem jeito e se é em meio a este povo em transe, egoísta, frio, insensível, alienado, cruel e cínico que quero morrer. Pergunto-me, neste momento, se a minha filha do meio, de 25 anos, não está certa por ter ido morar na Austrália e por não querer voltar a este Brasil estarrecedor que a cada dia me decepciona mais.
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Assista ao vídeo, abaixo

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