22 de março de 2010

Uma vida sem pedreiros, cortadores de cana e faxineiros


Não é novidade que, apesar da economia estar crescendo e vagas sendo abertas, o país não tem profissionais capacitados para atender à demanda do mercado (ah, a educação…) Uma reportagem exibida hoje no Bom Dia Brasil, da Globo, mostrou como a disputa por mão-de-obra qualificada tem feito com que o ganho líquido de um pedreiro seja, em alguns casos, quase o dobro que o de um engenheiro recém-formado. Particularmente, não acho que isso deveria assustar, mas isso é outra história.
Chamou a atenção uma declaração do presidente do CREA de Minas Gerais, Gilson Queiroz Filho, à rede de TV: “A avaliação é geral, principalmente, o Nordeste que era um grande fornecedor de mão-de-obra para Sudeste, Sul, hoje tem muita atividade. As pessoas estão se fixando naquela região e não vêm mais para atender a construção civil”. Não creio que ele tenha usado um tom negativo em sua fala, apenas feito uma constatação. Mas já ouvi muita gente verificar a mesma situação e reclamar da diminuição do volumoso estoque de braços nordestinos baratos que sempre esteve à disposição para o serviço aqui no Sul Maravilha. A floresta de concreto plantada em São Paulo cresceu regada ao baixo custo dessa força de trabalho e nem sempre tratando os filhos adotivos com o respeito que mereciam.
Para esse pessoal, problema maior não é a falta de mão-de-obra especializada, mas sim a redução no estoque de pessoas procurando qualquer emprego. Com muita gente disposta a trabalhar e poucas vagas, a remuneração oferecida e a qualidade de vida do trabalhador vão lá embaixo. Quando o número diminui, o custo do trabalho aumentam. Viva a lei da oferta e da procura.
É cedo para falar em processos duradouros e sustentáveis, mas será ótimo se chegar o dia em que teremos que desembolsar mais e garantir melhores condições a categorias historicamente maltratadas para contar com os seus serviços. Pedreiros, cortadores de cana, faxineiros, empregados domésticos só aceitariam empregos se fossem justamente remunerados e tratados sem preconceito. É utópico, eu sei, mas se o norte for o conformismo, a barbárie vai triunfar.
Quero ver aguentarmos um dia sem eles.

Um comentário:

  1. Concordo totalmente que o trabalho menos qualificado é tão nobre e merecedor de respeito e remuneração como qualquer outro trabalho honesto. Merecedor de respeito e de uma vida digna.
    E por falar em pedreiro, não vi nenhum comentário sobre a prisão arbitrária - por discordar do regime - a tortura, a greve de fome e a morte do pedreiro Orlando Zapata Tamayo nas masmorras da Ilha dos Castros? Só porque o grande humanista Lula comparou os prisioneiros políticos com criminosos e, como sempre, culpou as próprias vítimas? Onde está o humanismo, ou ele somente vale quando conta com o beneplácito dos Matarazzos Suplicys, Tarsos Genros, Greenhalghs e Lulas da Silva, a Nata do Poder, a Nova Classe Dominante? Ou é necessário ser de esquerda, principalmente com mortes e/ou ações de luta ARMADA no currículo para merecer proteção e apoio 'humanístico'?

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